Desde
que as ditas quarentenas e reclusões se iniciaram, ao redor do globo, uma onda
de companheirismo, correntes positivas e sentimento de ajuda ao próximo tomou
conta das redes sociais. Mensagens alegres e otimistas, dicas e ideias de como
atravessar da melhor forma possível o período de confinamento. Exercícios
diários, ginástica, ioga, pilates, meditação e as mais diversas formas de
respiração. Receitas de alimentação saudável, dicas de saúde mental e
psicológicas. Dicas mil de leitura, filmes e entretenimento virtual. Um mar de
inspiração para aqueles que sabem nadar em tão diferentes ondas.
Eu,
confesso, fiquei só na beira deste mar, ali na marola. Um exercício matinal
aqui, um suco de laranja ali, uma prova de bolo sem glúten acolá. E o blog desoriente-se
que, por si só, já me parece um tsunami…
Dentre
todas as dicas, umas me chamaram mais a atenção - as visitas virtuais. Não que
seja uma ideia nova (turismo digital, por exemplo, já ocorre há tempos), mas começaram
a inundar “meu Whatsapp” com dicas de visitas virtuais para os mais diferentes locais,
seja com foco turístico ou cultural.
Resolvi,
então, focar algum esforço nos museus, já que a oferta, parece-me, ocorre para
todas as principais instituições do planeta. Uma ideia, a princípio,
espetacular. Ora, você, de casa, a rondar pelos mais diferentes museus, a
conhecer as mais diferentes obras, peças e amostras. Se conectar com
praticamente todas a civilizações que nos precederam e que existem até hoje,
ter a história da humanidade na palma de sua mão.
E,
logo o primeiro espaço cultural que me veio à cabeça foi o Louvre. Tive a
chance de visitá-lo brevemente no passado. Lembro-me de pouca coisa, por conta
das longas filas e do número quase que irracional de gente a perambular pelo
museu. Uma multidão que parecia só querer ver a Mona Lisa, embora não tivesse a
mínima noção de onde ela poderia estar. Recordo-me, também, de ter de andar em
uma velocidade um pouco mais acelerada para que pudéssemos ver o máximo de
coisas possível (coisas, por favor, entendam como obras artísticas e relíquias
das mais antigas e fantásticas civilizações). A sensação que me deu era que,
basicamente, estava em uma espécie de gincana, onde o objetivo era chegar o
mais rápido possível a uma das saídas do museu, vendo o máximo de coleções ao
meu alcance, sem atingir ou esbarrar em nenhuma obra, atropelar uma única
criança, derrubar máquina de fotografar alguma ou ser engolido pelos grupos de
turistas alvoroçados. Canseira.
Pois,
de casa para o Louvre. Só bastava uma boa conexão de internet, telefone
devidamente carregado, disposição e, principalmente, tempo livre.
É,
muito tempo livre, visto que o maior museu do mundo leva em torno de 100 horas,
segundo cálculos matemáticos avançados (feitos por pessoas que, assim como eu,
não são matemáticas…) baseados na premissa que um indivíduo leva apenas 10
segundos na frente de cada uma das 38.000 obras expostas. Segundo alguns
entendedores de arte e afins (que não é o meu caso…), um tempo para a
apreciação de uma obra gira nos 30 segundos, logo, passarias não 100 horas, mas
100 dias para percorrer os 72.735 m² do museu. (Fora os, sei lá, dez minutos
que perdes a fitar os olhos da dita La Gioconda!)
Então,
temos aqui um pequeno problema. Onde um pai de família, a viver enfurnado
dentro de casa com duas crianças pequenas, consegue arranjar tanto tempo livre
para percorrer, mesmo que virtualmente, o Louvre?! Entre troca de fraldas,
leites, birras, bolachas, pão, mais bolachas (e birras), frutas, brinquedos,
choros, almoço, sestas, lanches, passeios secretos pelo bosque, um pouco mais
de bolachas, outras frutas, limpar o chão das migalhas de bolachas e dos nacos
de frutas, trabalhos de escola (também virtual), banhos, um bocadinho mais de
bolachas, um bocadinho mais de birras (isso nunca acaba), jantar, remédios,
talvez mais bolachas, correrias e gritos histéricos “pré-cama” pela casa e o
processo de por na cama, não creio haver muito tempo livre para o Louvre. Este
ou qualquer outro dos museus.
O
tempo que sobra é para trabalhar a mente, comer, beber, (vez ou outra) tomar
banho, reclamar de vírus e deletar as dicas que recebo de como viver bem
durante o processo de confinamento.
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