sábado, 23 de janeiro de 2021

TODOS OS DIAS SÃO SÁBADO

 


Escolas fechadas, crianças em casa. O dia todo, todos os dias.

As crianças já não vão para a escola logo pela manhã. Elas também já não chegam cansadas em casa durante a semana. Já não há a desculpa de dormir cedo no domingo porque segunda tem de acordar cedo para ir para as aulas. As educadoras Eva ou Cecília já não fazem parte do seu dia-a-dia. Tampouco os amiguinhos da escola. Somos só os quatro….

A sala de aula, agora, é a minha sala. Pintar só é arte se for no encontro entre o lápis vermelho e o sofá ou com as mãos sujas de morango e banana nas paredes do corredor. Elas até possuem um quarto. Lindo, amoroso, quentinho, cheiroso. Mas só entram no bendito cômodo para pegar bugigangas e espalhar pelo resto da  casa. Nunca voltam do quarto de mãos a abanar. Assim, as portas dos guarda-roupas já não fecham. A estante dos brinquedos se torna um mero enfeite. Já os brinquedos, soltos e livres, se multiplicam. Dá onde eles vieram? Quem deixou entrar tanta boneca nessa casa? E aquele monte de peluche? Não sabem que os bichos de pelúcia fazem mal ao (meu) mundo?!

O recreio das crianças é entre o meu quarto e a cozinha. Minha cama é o pula-pula perfeito. O sofá é uma piscina multiuso: mergulhos, saltos ornamentais e nado sincronizado.

Almofadas são tapetes, toalhas são tapetes. Já os tapetes são cobertores. Cobertores são capas de heroínas, cavernas de monstros e, claro, tapetes.

A casa cheira a fralda suja. As luzes, de noite ou de dia, permanecem acesas. Nacos de pão e farelos de bolacha dividem espaço no chão da casa. Manchas de iogurte, ainda bem, somente nas almofadas e na tela da TV.

Gritaria, histeria, discussão, esporro. Choro, teatro, sorriso, correria. Pela casa toda. O dia todo, todos os dias.

Não há mais dias de semana. É o fim de um cotidiano que se pode chamar de “normal”. Há uma nova rotina, mesmo que caótica. Todos os dias são sábado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário