Lá
vem ele. De roupa trocada, cara lavada, barriga forrada e sorriso no rosto.
Simpatia deve ser sinônimo de respeito ao trabalho. Estar de má cara não deve
ser bem visto. As manchas na roupa e as calças remendadas revelam as quantas
batalhas. O dedo rasgado e os arranhões no braço remetem ao esforço atual. O
roxo da unha já é tradição, mero percalço e, até, fonte de alguma anedota.
A sua
luta é diária, inglória, ativa, sofrida. Já lá vão anos. Nem se lembra quantos.
É mais do mesmo, sem trégua. Não reclama, é-lhe indiferente. Já nem sabe (ou
cabe) razão. Sofre contido, quando tem tempo para tal. Ele bem que gostaria de
parar, mudar, mas não é fácil. Nunca foi, para ele e para muitos outros.
Estão
sempre a labutar, colegas. Sorriem, discorrem em conversas, contos, estórias,
piadas. Cantam alto e mal. Dançam o que conseguem, objeto de mais risadas e
futuras ofensas. Ofender, aliás, é não ser parceiro, aliado, companheiro das
horas difíceis.
Não
podem parar, prazos a cumprir. O atraso, o erro, é sempre deles. Doenças e
outras enfermidades são somente para os outros. Fadiga física, há muito, não
existe. Enrijeceu, músculos e nervos. Calejou. Habituou.
Ele
tem de estar apto, são, presente. Diariamente, onde for, para quem for. Não há
horário vago, lacuna, dentro de sua rotina. Rotina, aliás, é um nome bonito
para a vida que leva.
Quebrar,
arrebentar, desmontar, soltar. Destruir. Juntar, embrulhar, varrer, carregar.
Subir, descer, levar, trazer. Preparar, medir, calcular, errar. Desfazer, refazer.
Ouvir. Segurar. Levantar, montar, moldar, soldar. Erguer, fabricar, pintar,
apertar. Construir. E, como sempre, amanhã tem mais.
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