Já lá
vão uns bons meses usando máscara e, mesmo assim, não dá para dizer que estou
habituado ao novo utensílio diário, bem como ao cotidiano no qual tal objeto é
referência.
Ainda
mais eu, que sou daquele tipo de bípede que se esquece de tudo, capaz de sair
de casa sem as chaves ou carteira. Sabe aquela espécie bastante especial de
gente que vai ao mercado e, no meio do caminho, lembra que está sem dinheiro ou
cartão? Este mesmo que volta à casa, entra pela porta adentro, repara que
deixou as luzes acesas, abre a geladeira para procurar uma coisa qualquer, bebe
uma água de forma sossegada, suspira olhando para o teto e volta a sair de
casa, sem levar tanto o dinheiro como o cartão. Então, eu sou desse grupo aí!
E, convenhamos, a máscara, em si, é um objeto perfeitamente esquecível (embora,
não desprezível). Para mim, então, esquecer da máscara tornou-se mais fácil que
respirar.
Mas,
pronto, tenho me (es)forçado para criar o hábito de ter um exemplar sempre em
locais específicos e fáceis de lembrar. Mochilas, carro, bolsos das calças (!).
Vejo
uma melhora clara, desde o começo da orientação ao uso das máscaras até agora. Já
só esqueço vez ou outra (tal qual o descuido de fechar o zíper das calças).
Meus problemas com as máscaras agora são outros.
Para
começar, não existe um dia em que eu não cometa ao menos umas 350 ditas
infrações ao utilizar a máscara. Não é só uma questão de esquecimento ou algum
(ou muito) desprazer. Estou falando de certa falta de capacidade cognitiva e um
considerável desajuste motor.
Ainda
no começo desta chatice toda de coronavírus, usava a máscara com uma raiva tão
grande quanto o cuidado que tinha com ela. Sim, porque, na época, as máscaras
eram tão caras que estava mais barato trocá-las por um rim no mercado negro.
Então, usar com cautela, manter limpa, tratar bem e dar carinho, era meu lema
de vida.
O meu
tipo de máscara era (e é…) daquelas mais simples, descartáveis, com a parte da
frente azul e a interna branca. Nunca fui de usar as personalizadas, coloridas,
“bonitinhas”, de pano ou tecidos mais resistentes (ao vírus e afins). Não tenho
capacidade para gerir a correta limpeza desse tipo de apetrecho. E não confio em
minha capacidade de manter as tais máscaras personalizadas sob minha batuta por
muito tempo. E, no caso das mais simples, era usar com o devido cuidado até
ela, milagrosamente, arrebentar uma das fitas que prende a máscara as orelhas.
Fato,
elas sempre arrebentam. E, costumeiramente, isso ocorre quando estás prestes a
entrar em algum recinto cuja utilização da máscara é obrigatória. E ela é a
única na mochila. Ou no bolso!
Além
do que, as máscaras descartáveis facilitavam o meu desapego as mesmas. Ainda mais
pelos constantes problemas e percalços que tive com o manuseio delas.
Uma
joguei fora porque estava mascando um chiclete. Ao notar que era hora de me
livrar da goma, levei a mão na direção da boca, abaixei a cabeça e soltei
graciosamente o chiclete. A guloseima, que deveria usar da força da gravidade e
rumar à palma da minha mão, nunca atingiu seu destino final. Explodiu na
máscara e se aconchegou entre a mesma e a minha barba. Nada adiantou xingar a
máscara, o dono da máscara, o chiclete e o coronavírus. Tentativas de retirar a
goma sem prejudicar a máscara (ou minha barba) foram em vão. Máscara no lixo e
a utilização de uma nova (que vem com aquele tradicional cheiro de coisa ruim e
que ninguém sabe o que é).
Outra,
novinha em folha, joguei fora porque, aparentemente, um chocolate não é capaz
de atravessar os microporos da máscara e chegar a minha boca. O resultado foi
uma mancha marrom na máscara, que só aumentou com a minha tentativa frustrada
de passar o dedo de modo a tentar limpá-la. Ainda ousei continuar meu caminho
com a peça, porém, após ser perseguido por moscas, desisti da máscara. Lixo.
Umas
duas outras “perdi” por elas terem caído no chão. Não podemos usar uma máscara
que caiu no chão, certo? Ainda mais se as máscaras teimam em imitar o pão com
manteiga e a parte da máscara que atinge o chão virada para baixo é justamente
a parte que está em contato com a boca e nariz.
São
tantas as máscaras, tantos os dias mascarado, tanto tempo passado a tentar se
proteger, a procurar evitar o diferente, que tenho uma certa aflição de estar
me acostumando com o não-tão-novo adereço facial. E isso me irrita ainda mais
que prender a máscara na maçaneta da porta ou viver a desenrolar os fones de
ouvido das mesmas. Me angustia ter de pensar que “esta nova forma de viver o
mundo” de que tantos vem falando, envolve ter seu sorriso escondido por um
pedaço de tecido malcheiroso. O mundo “lá fora” já estava enfadonho o
suficiente sem isso. Quero voltar a ser um mero distraído sem máscaras.
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